Índice de endividamento também está bem acima do considerado aceitável por especialistas
Juntas, as varejistas que faturam acima de R$ 50 milhões ao ano abriram 236 unidades – uma alta de 9% sobre 2017. Para este ano, tudo indica que as aberturas serão novamente o motor de crescimento do setor. A Pesquisa Maiores Varejistas , realizada por SA Varejo, identificou que 67,1% do lucro obtido no ano passado será destinado, até o final de 2019, à expansão. Até aí tudo bem, não fosse o fato de muitos varejistas abrirem lojas sem uma análise mais profunda, acreditando que se trata da melhor saída para ampliar escala. O problema é que, muitas vezes, a iniciativa pressiona os indicadores de lucratividade.
Para se ter uma ideia, o lucro líquido teve uma ligeira retração de 0,07 ponto percentual (pp) em 2018 e atingiu 1,87%, enquanto a margem bruta caiu pelo terceiro ano consecutivo – desta vez em 1 pp, alcançando 25,6%. E mais: o endividamento das redes varejistas ficou em 18,3%, em média, quando o nível considerado confortável é de 9%, segundo especialistas em varejo. Portanto, a que custo está vindo esse crescimento? O quanto ele está sendo saudável e quais riscos as empresas estão correndo?
Como agregar estratégia à expansão
- Em vez de adquirir imóveis e terrenos com base apenas no feeling, é recomendado ter uma equipe focada em monitorar oportunidades condizentes com os planos da empresa, além de negociar a compra, como recomenda a consultoria BCG
- Já a Roland Berger enfatiza que a decisão de abrir lojas deve ser pautada no posicionamento da rede, na definição da segmentação e em estratégias de canais
- Esse trabalho precisa começar de fora para dentro, considerando quesitos como tendências de consumo, perfil do shopper a ser atendido, foco em algum nicho de mercado ou não, etc.
- Deve passar ainda pela escolha dos formatos de loja que a empresa vai operar, até a definição exata da quantidade e das características do portfólio de unidades a serem inauguradas
- Além disso, ferramentas de geomarketing ajudam a mapear locais para abertura de lojas dentro da estratégia traçada
Flávio Magalhães, sócio da consultoria BCG (Boston Consulting Group), reconhece que expansão é um dos fatores relevantes no processo de crescimento do varejo. No entanto, ela deve ser bem planejada, o que inclui análise minuciosa de aspectos como disponibilidade de capital para investir e retorno esperado. “O grande risco é concentrar toda a estratégia de crescimento da empresa apenas na abertura de lojas”, avisa. Ele lembra que, em muitos casos, o retorno do investimento pode demorar anos.
“Daí a necessidade de agregar uma visão mais estratégica à expansão. Com isso, evita-se canibalização de vendas com lojas da própria rede que já estão em operação, além da deterioração da rentabilidade”, afirma outro especialista, Gerson Charchat, sócio e responsável pelas áreas de varejo, consumer goods e agribusiness da Roland Berger . Já Alexandre Marciano, vice-presidente da Cosin Consulting , lembra que mais lojas levam a custos maiores, como estoque de mercadorias e maior contingente de pessoas contratadas. Tudo isso, vale ressaltar, pressiona para baixo a margem e o capital de giro.
Riscos para os negócios
É muito comum – e compreensível – que o senso de urgência por resultados rápidos e a preocupação de não perder uma boa oportunidade, como a aquisição de um terreno, levem o varejista a correr alguns riscos. Um deles é achar que, embora o endividamento esteja alto, as vendas geradas pelo empreendimento serão suficientes para pagar as parcelas da dívida. Em muitos casos, essa avaliação não se concretiza, levando também a problemas de fluxo de caixa.
Para evitar essa situação, é importante avaliar a estrutura de capital ao longo do tempo. Segundo João Francisco Aguiar, professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville, um nível de endividamento de 20% com financiamento de longo, como o via BNDES , é melhor do que um de 10% composto por passivos bancários de curto prazo. “Alavancagem é positiva se o custo financeiro é baixo e proporciona VPL [valor presente líquido] positivo no projeto que está sendo financiado”, explica o especialista. Em outras palavras, as análises são bastante complexas, porém necessárias para garantir o crescimento sustentável do varejo.
Entenda a Pesquisa maiores varejistas
Pelo segundo ano, SA Varejo realiza a pesquisa Maiores Varejistas, que aufere o desempenho do varejo alimentar. Neste ano, participaram cerca de 360 empresas. Elas reportaram seu faturamento por formato de loja, gerando o ranking geral das 150 maiores, que você encontra nesta edição. Já o ranking completo, com todas as empresas participantes, além da segmentação por formato e Estado, estão disponíveis no Portal SA Varejo. Essas varejistas também nos enviaram o faturamento individual de1.295 filiais, o que, somado às 106 lojas independentes, permitiu projetar a receita anual do setor. Para isso, foi gerado um índice médio de vendas/ m2, segmentado por região e tipo de loja e, dentro do formato de supermercados, por nº de checkouts. Também foi realizado um estudo complementar com indicadores, como margem, destino do lucro, endividamento, ebitda, etc.
Fonte: Fernando Salles – Fernanda Vasconcelos – redacao@savarejo.com.br – 13/06/2019